Meus oito anos
Oh que saudade que eu
tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância
querida
Que os anos não trazem
mais!
Que amor, que sonhos,
que flores,
Naquelas tardes
fagueiras
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da
existência!
─Respira a alma inocência
Como o perfume da flor:
O mar é lago sereno,
O céu─ Um manto azulado,
O mundo um sonho
dourado,
A vida um hino de amor!
Que auroras, que sol, que
vida,
Que noite de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar,
O céu bordado de
estrelas
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a
areia
E a lua beijando o mar!
Oh ! Dias da minha
infância!
Oh meu céu de primavera!
Que doce a vida era
Nessa risonha manhã!
Em vez de mágoas de
agora,
Eu tinha nessas delícias
Da minha mãe as carícias
E beijos da minha irmã!
Livre filho das
montanhas
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao
peito,
─ Pés descalços, braços nus─
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as
mangas
Brincava à beira do mar:
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre
lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh que saudades que eu tenho...
Cassimiro de Abreu, nasceu
em Barra de S. João, RJ, em1839 e faleceu em 1860.