
Monólogo editado
Ah como era feia a minha boneca! Feia, muito feia!
Não era uma boneca qualquer, como as bonecas de lojas: bonecas
de porcelana rosada, com vestidos de cetim. Ou aquelas de marcas famosas,
feitas de um material róseo cheirando a coisa nova.
Já a minha, foi comprada na feira. Uma boneca de pano grosseiro,
de algodão cru, vestido de chita. Mas era a minha boneca Hosana querida. Minha
amiguinha inseparável.
Ela não tinha os olhos azuis brilhantes, nem cílios longos. Tinha
olhos pretos, boca vermelha, feitos de linha de bordado. Eram olhos e boca, já
tão desbotados!
A boca, então, não tinha traços delicados. As pernas eram
compridas sem curvas, sem joelhos, sem pé e sem dedos. Mas era a minha boneca.
Seu corpo desengonçado sem formas perfeitas...! Seus braços então, tais quais as pernas. Mas era a minha boneca que eu gostava. Ah, e
como dela eu me orgulhava!
Eu sempre pensava: “Já que ela não tem beleza, vou fazer mais e
mais vestidos de retalhos de tecidos finos, para, de vez em quando,
transformá-la”.
Ganhei uma caixa usada, de charutos, e usei como baú para guardar
suas roupinhas. Em pouco tempo já era uma coleção.
Troca daqui, troca dali, enfeitava Hosana. Mas era só isso que
eu conseguia: Enfeitá-la!
O tempo passou! Outras bonecas mais vistosas eu ganhei. Mas
nunca abandonei a minha boneca feiosa.
Um fatídico dia, vendo bonecas que dormiam e choravam nos braços
de ricaças meninas, pensei numa ideia, tampouco brilhante: “Se minha Hosana não
chora e nem dorme, posso fazê-la beber”.
E foi com esse pensamento inocente, que eu vi mais que de
repente, minha boneca Hosana “morrer”. Com sua carinha de mofo pintada, mais
feia estava. Mas era a minha boneca!
Perdi... A enterrei numa cova, lá no fundo do meu quintal, com
todas as honra e choros, e um adeus a minha primeira boneca.
Dora Duarte
5 comentários:
Olá Dora, lindo texto!
Também tive uma boneca de pano eu adova a boneca!
Carinhosamente
Beijos
Amara
oi, Dora... sempre vejo vc no Recanto dos Autores. lindo o seu blog! Da sua mais nova seguidora, Isabelle, a borboleta que cospe sapos. Bjins,
Boa noite, querida amiga Dora.
Adorei!!
Que história bonita, menina!! As coisas lindas e marcantes de nossa vida não precisam ser caras.
Basta que tenham feito parte de nós, que nos tenham conquistado...
Hoje essas bonecas de pano são um mimo.
Um grande abraço.
Tenha uma linda semana de paz.
TGestando comentário. Dora Duarte
Dora, só hoje vi seu comentário no meu texto e vim visitar seu Blogger. Parabéns, está muito bonito! Por coincidência escrevemos sobre o mesmo tema e a nossa boneca de pano, mas em datas diferentes.Sua historia é linda e o texto muito bem elaborado, mais uma vez parabéns! Um abraço.
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