Coisas de Criança

Coisas de Criança é...Brincar

Coisas de Criança é...Brincar
Contos, poesias,brincadeiras tradicionais, cantos e cantigas de roda, para gente miúda e graúda, desde que deixe a criança que existe em você se soltar.

domingo, 2 de agosto de 2009

CIRCO FANTASIA


Há muito tempo, em meados do século vinte, no Brasil, principalmente nas pequenas cidades. Quase não havia meios de diversão, ou seja, o progresso das grandes cidades não tinha chegado ainda, nem televisão, nem cinema. Então reinava o circo, uns mais ricos, outros nem tanto.

O Circo era muito freqüentado pela a população, sendo em grande parte pelas crianças, elas então, se encantavam com os trapezistas, mágicos e palhaços, num espetáculo de sons e cores.
Cada palhaçada, muitas gargalhadas.

Bem não terminavam de montar o circo, havia um desfile na cidade, fazendo propaganda do espetáculo e o palhaço em cima das pernas de pau e com um megafone na mão perguntava bem alto em bons sons e a criançada da rua correndo atrás respondia:

Palhaço;__Hoje tem marmelada?
Crianças__tem sim senhor!
__Hoje tem goiabada?
__Tem sim senhor!
__E o palhaço o que é?
__É ladrão de mulher!




Era uma folia que só vendo! Corriam crianças dos quatros cantos da cidade.Esse era o cenário da recepção, de uma diversão que , com o tempo foi esquecido,pelo menos os circos mambembes.

Foi nessa época, que uma família de artista de circo, Eram um casal, ele Alberto o mágico, ela Ivone a trapezista, tinham dois filhos,Ivete e Ivan, jovens ainda, mas já participavam ajudando os pais.Um palhaço chamado Rapadura que não tinha família, ganhara esse apelido na infância de tanto que gostava de comer rapadura , um macaco chamado Chupim que era criado como gente e um papagaio tagarela chamado Riquinho .
Resolveram criar a sua própria companhia. Juntaram por muitos anos algumas economias e compraram um caminhão, barracas de lonas e todo o material básico para começar. Assim conseguiram! E foram-se de cidade em cidade do nordeste do Brasil.

Rapadura era um palhaço muito engraçado no picadeiro do circo, ou quando passava nas ruas naquelas pernas-de- pau gigante, era muito querido pelas crianças, claro, era o seu trabalho e vocação.Porém na sua vida pessoal,era um homem triste, já tinha os seus 58 anos e nunca se casou, sentia-se solitário, apesar daquela família lhe tratarem muito bem.

Um belo dia de sol saiu à caminhar, quando sentiu alguém lhe acompanhando, olhou para os lados , viu e parou:
__oh é uma linda cadelinha tão sujinha! Será que está sem dono? Tocou ela para ver se iria embora, mas foi em vão, ela choramingou, latiu, parecia que queria falar( leva-me para sua casa!) Ele não pensou duas vezes levou para o circo , todos gostaram, ele deu-lhe um banho a cadelinha ficou bem branquinha e rajada de marrom.Desde então, ela tornou-se companheira inseparável do palhaço Rapadura.
__ Você vai ser chamada de Pituca.Os dois pareciam “Charlie Chaplim” ator do cinema mudo.

Fizeram muitos espetáculos, apesar da precariedade do circo, lotava, mas como o dono tinha muitas prestações para pagar, foi surgindo a difícil vida do artista de circo.
Por causa da chuva, tempo e vento, a lona foi desgastando, precisava ser trocada, mas como?
O palhaço rapadura, já começava a remendar a calça folgada de bolinhas coloridas, faltavam maquilagens para pintar-se, o jeito era passar pasta de dente branca ou a farinha de trigo, sobrancelhas pintadas de carvão, para fazer a boca vermelha, pegava o batom das mulheres. Aquilo o entristecia, mas precisava fazer as crianças rirem, era o seu dever, nascera para fabricar sorrisos.

Havia na cidade um senhor viúvo e muito rico dono de várias fazendas. Tinha apenas uma filha Luíza de seis anos e vários criados. A menina era linda de cabelos cacheados, andava muita bem arrumada, tinha de tudo o que uma criança rica poderia ter, até um pônei de verdade. Porém Luíza tinha um sério problema, não sorria;
Parecia está sempre séria, um olhar distante, seu pai já havia levado aos melhores médicos, eles nada acharam nela, apenas um distúrbio de natureza. Mas o pai não se conformava, perguntava à ela se faltava-lhe alguma coisa, algo que ela quisesse, se ela sentia-se infeliz, ela respondia que não.

Numa tarde de domingo, a sua babá perguntou-lhe se ela queria ir ao circo, ela então respondeu:

-Aquele circo feio e pobre? -Sim, respondeu a babá

Com muito custo a babá a convenceu, resolveram ir ver um espetáculo de matinê, com o consentimento do pai, este prometendo depois buscá-las,ele até torceu, pensando”quem sabe... haja um milagre, assim a minha filha possa até sorrir”

Chegaram lá, o circo estava cheio, muitas crianças, pipocas , pirulitos, dropes e amendoins eram vendidos pelo o Ivan o filho do dono.Fazia uma transformação, ora era vendedor, ora equilibrista, trapezista, ora comediante junto como palhaço Rapadura.
Começou o espetáculo:

Respeitável público infantil, muito boa tarde!
__Boa tarde ! Grita a criançada!
A menina rica só observa com um olhar diferente meio o absorto, aéreo.

Começou com os trapezistas, Ivone,e Ivan, fazendo muitas piruetas, no trapézio, depois Ivan fez equilíbrio no arame, palmas e assovio são ouvidos e aceitos com entusiasmo. Quando terminou o número de acrobacia, entrou o palhaço Rapadura, com o macaco Chupim nas costas, começou fazendo as suas palhaçadas brincando com o macaco, enquanto esperava o Ivan se trocar para o ajudá-lo nas brincadeiras. Depois entrou a cadelinha Pituca vestida de bailarina, dançando e fazendo todos rirem.Eles arrancavam da criançada, boas gargalhadas. Logo o palhaço Rapadura percebeu o olhar triste daquela menina, de dentro do seu coração veio uma vontade de faze-la sorrir.
Começou a fazer de tudo: plantava bananeira, caía de propósito, contava coisas engraçadas, todos riam, menos ela. De volta o companheiro de cena Ivan, entrou com o papagaio Riquinho, falante demais, era mestre em contar fofocas aumentando a baderna dos dois e nada da menina Luiza sorrir! O palhaço encarou-a nos olhos, e ela nos dele, já marejados de lágrimas, frustrado por não ter conseguido faze-la ri, Sentiu uma dura realidade nunca pensada, fazer um milagre de devolver um sorriso perdido de criança e voltar a achar.
De repente sem perceber, ele começou a chorar, as lágrimas desceram pelo o seu rosto, ainda encarando a menina> Fez-se um silêncio enorme na platéia e no palco, sua maquilagem barata de farinha de trigo com pasta de dente, carvão e batom, começou a derreter...

- Veja o palhaço está chorando! Alguém berrou lá de cima da arquibancada!

A menina Luíza, para espanto de todos, vendo o palhaço chorando e a maquilagem derretendo caiu na gargalhada, riu, riu, riu tanto que todo o mundo ficou de boca aberta. O Rapadura pegou-a no colo e riu junto dizendo: -Consegui!!!
Nesse instante mágico, talvez por intuição o pai levantou a cortina de entrada e entrou. Vendo aquela cena, emocionou-se tanto que chorou abraçado à filha que passou a rir atoa sem parar.

O milagre aconteceu, o espetáculo terminou, o pai de Luíza pediu para falar com o palhaço e o dono do circo, agradeceu tanto por tudo, soube das dificuldades deles, prometeu ajuda-los em tudo que fosse preciso, melhorando, todo o circo, roupas, figurinos, lonas novas e tudo de bom, pois daquele momento em diante, a sua filha, não mais iria ficar séria, nem que tivesse que ver as caretas do palhaço. O dono prometera que mesmo indo noutras cidades, estaria de volta àquela cidade.

Saiu os dois sorrindo e cantarolando e a babá agradecendo a Deus por tudo.

O palhaço, depois do espetáculo, foi lá fora do circo, a noite estava linda e enluarada, sentou-se num tronco de pau, respirou aliviado, abraçou a cadelinha Pituca e cantarolou a música de Chalies Chaplim:

& “Para que chorar o que passou... lamentar perdidas ilusões...lá lá la´la´la lá la lá.&

Autora: Dora Duarte

Um comentário:

Antonio Cícero da Silva(Águia) disse...

Belíssima história, garboso blog. É como uma brilhante estrela a fortemente reluzir, na imensidão do espaço... Abraços literários
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